segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sobre sereias na soja


Segue minha tentativa de entrar no mundo literário do realismo mágico.Quando conseguir escrever dramas como Juan Rulfo para de usar o humor pra entreter meus 4 leitores.


O sol escaldante de janeiro aliado com terra ainda molhada das chuvas da semana passada não consegue ofuscar os cheiros de glifosato, azoxistrobina, ciproconazole, fipronil e metomil que se misturam no ar. Perdi alguns minutos pensando em que tipo de câncer terei, na possível cura e como Franz Kafka reagiria a isso. Nisso me deparo com um Massey-Ferguson 275 arrastando uma Hatsuta cuspindo uma mistura de fungicida, inseticida e benzimento. O alemão que pilotava o implemento estava com os ouvidos cobertos com grossos maços de algodão amarrados com por uma faixa de pano e como é de praxe nessa região não usava nenhum “outro” equipamento de proteção.
            Pensei, -Só pode ser três coisas: ou ele errou o EPI de lugar, ou está com um ferimento no ouvido, ou enlouqueceu.
A ultima assertiva parece me pareceu verdadeira quando se desenrolou o acontecido:
-Escuta, seu Fritz, porque essa panaiada nos ouvidos?
Ele gesticulou com os braços que não ouvia e me mostrou a sombra de um umbu na beira da estrada que deduzi que era onde ele queria parar e me explicar o porquê daquilo.
-Óia, eu botei isso aqui nos ouvido pra não cai na tentação de música das sereia.
Contive o riso e pensei –Taí uma boa oportunidade de testar meus parcos conhecimentos de psiquiatria, não deve ser tão difícil assim, afinal de contas já assisti quase todos os episódios Dr. House.
Regra n° 1- nunca contrarie um louco. Comecei:
Olha, seu Fritz, nem precisa me explica esse teu caso. Um amigo meu, o Homero, me contou uma historia bem parecida. Esses peixão vem, cantam e encantam, depois dão o bote e adeus, morte na certa. Um tal de Ulisses, foi o primeiro que escapou das serias usando essa estratégia de tapar os ouvidos.
Eu ia filosofar um pouco em cima do conceito de “contrato de Ulisses”. Mas achei que não ia muito longe, abandonei a idéia.
Tinha me decidido a não sair dali sem curá-lo.
-Seu Fritz, pode passa veneno tranqüilo que essas sereias são mudas. Depois que o Ulisses passou de barco por elas com os ouvidos tapados, todo mundo aprendeu esse jeitinho, e com o tempo as serias foram esquecendo as musicas, elas não cantam mais, não dão mais nenhum pio. E essas serias do Jacuí são das mansas, no máximo elas amassam um pouco da soja e se vão. Fazem um dano muito menor do que as capivaras.
Nesse momento notei que olhos azuis de Seu Fritz estavam arregalados, fixos olhando para o lado, hipnotizado.
Pensei – O caso é crônico, melhor levar ele pra casa logo.
Oh, Seu Fritz, desce do trator, vou levar o senhor pra casa, entra no carro.
-Elas não cantem, não falam mais mesmo como tu disse, mas elas olham. Elas Olham!
Glifosto, azoxistrobina, ciproconazole, fipronil e metomil causam muitos mais problemas do que se pode imaginar.

domingo, 7 de abril de 2013

Chayanov pra espantar o tédio.



             Alexander Chayanov foi um agrônomo russo, um dos pioneiros do estudo das unidades familiares de produção. Além disso, também se arriscou no mundo da literatura. Escreveu a novela “Viajem do meu irmão Alexei ao país da utopia camponesa”, disponível aqui. Na Obra ele faz reflexões cheias de humor de como seria o mundo dominado por camponeses, é um texto bem curtinho e vale a pena ler. Dizem que George Orwell se inspirou nessa obra pra escrever 1984, realmente as semelhanças são enormes.
Pra espantar a chatice desse domingo resolvi brincar um pouco e imaginar como seria o Brasil governado por esse humilde comalense que vos escreve.Eis aqui meus primeiros decretos:

      1- Fica definitivamente proibido que existam cidades com menos de 30.000 habitantes.
      2- Será incentivada a migração dos grandes centros para as cidades pequenas com a finalidade de completar sua a meta habitacional.
3-      Os migrantes para o campo deverão ser preferencialmente as pessoas mais inteligentes, com mais escolaridade e bem humoradas.
4-      Será instituída a laicidade definitiva do Estado. Ficam proibidas as celebrações religiosas fora dos templos. As conhecidas carolas serão deportadas para os grandes centros urbanos.
5-      Doutores e mestres do campo das ciências humanas deverão morar prioritariamente nas cidades pequenas
6-      Fica proibida a propriedade privada da terra.
7-      A produção será planejada pelo Estado através de fazendas estatais de produção.
8-      Os agricultores serão recrutados entre as melhores mentes nacionais. Aos burros e ignorantes será vedada a profissão de agricultor.
9-      Os agrotóxicos serão todos banidos.
10-    Quem rir ou fazer troça desses decretos será sumariamente fuzilado.
Bom, Chaynov morreu fazendo trabalhos forçados na União Soviética vítima do Stalinismo. Espero que meu fim seja diferente. 

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Os Lebrões da soja




Os custos de produção da soja aumentaram muito nos últimos anos, é praticamente um consenso que a produção de soja não é viável economicamente em pequenas áreas. Mas porque cargas d’água esses pequenos agricultores familiares plantam essa oleaginosa?
Essa é uma pergunta incomoda e de difícil resposta. Vou aqui dar uns pitacos sobre o assunto na tentativa de achar respostas:
- A soja virou um meio de socialização. Cultivares, adubação e projeções de safra são os assuntos preferidos nas manhãs de domingo antes dos cultos e missas, até dizimo da igreja é pago em sacas de soja. Então, se um cara só plantar pasto pras vacas ou tiver qualquer outra atividade produtiva mais rentável fica sem assunto com os amigos, então o vivente sempre planta um pouco, pra se socializar. O cara não é tão burro assim ao ponto de não fazer as contas dos custos de produção, ele deixa propositalmente de fazer as contas porque sabe que vai dar tufo, mas plantar soja já faz parte da cultura local.
Existem várias outras respostas possíveis, nem todas erradas, nem todas certas. Vamos pensar a respeito, ok?